terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O bibliotecário digital

O bibliotecário digital deve possuir conhecimentos dos instrumentos e métodos de catalogação eletrónica (metadados); dominar as tecnologias da informação; conhecer os aspetos relacionados com a lógica e a estratégia de pesquisa; conhecer formatos e linguagem da web (html, xml, sgml); possuir um pensamento lógico; ser criativo; entender as peculiaridades do acesso a banco de dados, redes de biblioteca e demais fontes eletrónicas; conhecer software de aplicativos utilizados nas bibliotecas; conhecer as normas de Direito Autoral; possuir conhecimentos dos protocolos de informação (por exemplo, Z39.50).
Contudo, deve continuar a ter conhecimentos relacionados com a administração de arquivos, gestão de documentos, organização de fundos documentais e tratamento técnico de acervos bibliográficos.
            O bibliotecário digital deve ser dinâmico e criativo, isto é, ser capaz de resolver, rapidamente, problemas que possam surgir no momento, devendo possuir, por isso, capacidade para aprender constantemente e depressa; deve ter facilidade em partilhar conhecimentos, ou seja, adaptar-se ao trabalho em equipa e ter um bom relacionamento interpessoal com os que o rodeiam; deve ser flexível, adaptando-se a qualquer situação com que se depare e respeitar as decisões/conclusões que sejam tomadas/encontradas.
            O bibliotecário digital deve ser capaz de fornecer a informação certa, no momento certo, para o fim a que se destina, ou seja, deve possuir perspetivas de serviço público.
            O bibliotecário digital deve possuir o entendimento dos conceitos básicos de informática e das ciências da informação, a capacidade de aprender, avaliar e utilizar as diversificadas ferramentas e aplicações informáticas que possam ser úteis ao exercício das suas funções.
            A globalização e o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação têm provocado profundas transformações no mundo. A massificação do uso da internet e o acesso às novas tecnologias transformaram profundamente tanto a nossa vida social como a nossa vida profissional e até a forma como aprendemos ou ensinamos. Estas transformações foram sentidas, igualmente, no mundo das bibliotecas: não só a informação, considerada, atualmente, como peça-chave essencial ao conhecimento humano, passou a desempenhar um papel fundamental no dia-a-dia dos seres humanos, como o ênfase dos serviços deixou de centrar-se na coleção/posse do livro como objeto físico, passando a focar-se no utilizador e na informação. As bibliotecas, como organismos vivos que são, têm vindo a desenvolver novos serviços, adaptando-se às novas realidades, a novos suportes de informação e a novas formas de comunicação em rede.
            Atualmente, as bibliotecas tradicionais, as bibliotecas digitais e as bibliotecas hibridas coexistem pacificamente, sendo que os serviços que prestam dependem, em grande parte, do grau de adaptabilidade de cada uma delas ao mundo digital. No entanto, esses serviços são sempre pensados tendo em conta os utilizadores, fator que condiciona o tipo de serviços prestados e inclusivamente a forma como estes são prestados. No caso das bibliotecas digitais há dois fatores a ter em consideração quando falamos em serviços prestados: a universalidade dos utilizadores e a acessibilidade aos documentos. Com o fim de barreiras físicas ou temporais que condicionem a acessibilidade à biblioteca, os utilizadores digitais podem ser de uma enorme variedade, difícil de prever, competindo aos profissionais da informação antever e proporcionar serviços que tenham em consideração a universalidade dos utilizadores, reais e potenciais, assim como a sua diversidade linguística e cultural.
            Mantendo sempre o seu propósito principal de disponibilizar informação, bibliotecas por todo o mundo investem cada vez mais em serviços de referência online, usando todas a inovações tecnológicas e comunicacionais ao seu alcance, que lhes permitam chegar aos seus utilizadores. Telefone, fax, e-mail, formulários web, SMS, online chat, vídeo chat e, mais recentemente, as redes sociais são formas comuns, adotadas pelos serviços de informação no contacto com os seus utilizadores.
            Não menos importantes, no entanto, são os serviços prestados diretamente relacionados com a acessibilidade aos documentos, ou seja, os serviços de atendimento e ajuda ao utilizador, nomeadamente: os serviços de help desk, linhas telefónicas de ajuda, instruções, guias e manuais de pesquisa, etc. Um dos aspetos mais importantes para as bibliotecas será sempre a formação dos utilizadores e o desenvolvimento da sua autonomia digital e informacional.

Referências:

Caldeira, Pedro Zany (2003). A usabilidade das bibliotecas digitais: a perspetiva dos leitores/utilizadores. Cadernos Bad, 2, pp 18-32.

Comissão de Ética para os Profissionais da Informação em Portugal (1999).  Código de Ética para os Profissionais de Informação [Em linha]. Lisboa : Comissão de Ética para os Profissionais da Informação em Portugal. [Consult. 21 Fev. 2012]. Disponível em WWW:<URL:www.apbad.pt/Downloads/codigo_etica.pdf>
Dutra, T. N. A.; Carvalho, A. V. (2006). O profissional da informação e as habilidades exigidas pelo mercado de trabalho emergente. Encontros Bibli: Revista Electrónica de Biblioteconomia e Ciências da Informação, Florianópolis, nº22, 2º sem., 178-194. Acedido em 23 de abril de 2012 em www.brapci.ufpr.br/download.php?dd0=11886.

Leitão, Paulo Jorge Oliveira (2010). Conteúdo gerado pelos utilizadores: desafios para as bibliotecas. Cadernos Bad, 1/2, pp 113-146.
 Mendonça, M. F. A. (s. d.). O moderno profissional da informação e seu perfil face aos novos tempos. Acedido em 23 de abril de 2012 em http://www.biblioteca.sebrae.com.br/.
 Rodrigues, E. (s. d.). Os novos tempos de uma velha profissão: perfis e competências dos bibliotecários na revolução digital. Acedido em 23 de abril de 2012 em http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/421/1/APDIS98.pdf.
 Witten, Ian H. ; Bainbridge, David ; Nichols, David M. (2010). How to build a digital library. 2nd ed. Burlington: Elsevier.



Literacia da informação

            O conceito literacia da informação é relativamente recente, estando o seu aparecimento associado ao advento das Tecnologias da Informação e da Comunicação e à necessidade de se encontrar uma designação para as competências que, no contexto da Sociedade da Informação, são exigidas aos cidadãos.
            O conceito tradicional de literacia relaciona-se com a capacidade de entender, compreender e redigir textos. O desenvolvimento das Tecnologias da Comunicação e a consequente proliferação da informação conduziram a uma transformação do conceito no sentido de este passar a abranger saberes e competências fundamentais à interação com a tecnologia e à obtenção de informação através dela. É aí que surge, como já foi referido, a expressão "literacia da informação", associada à exigência de um novo conjunto de competências para o acesso e utilização da informação, tornando-se um atributo decisivo na sociedade contemporânea, indispensável à autonomia na aprendizagem ao longo da vida.
            As definições de literacia de informação, avançadas quer por organizações quer por estudiosos, têm sido várias, no entanto, a mais frequentemente citada é a da American Library Association a qual refere que um indivíduo com competências de informação "deve ser capaz de reconhecer quando a informação é necessária, e ter capacidades para a localizar, avaliar e usar eficazmente (ALA, 1989, citado por Calixto).
            Segundo a declaração de princípios da AmericanLibrary Association (Association of College and Research Libraries, 2000, citado por Calixto) aquele que possui literacia da informação deverá ser capaz de determinar a extensão da informação de que necessita; aceder à informação de que necessita de modo eficaz e eficiente; incorporar a informação selecionada na sua base de conhecimentos; usar a informação eficazmente de modo a conseguir um objetivo específico; compreender as questões económicas, legais e sociais que envolvem o uso da informação e aceder e utilizar a informação de modo ético e legal.
            A UNESCO/IFLA (2005), através da Proclamação de Alexandria, refere que "a literacia da informação habilita os indivíduos em todas as etapas da sua vida para a procura, avaliação, uso e criação de informação de modo eficaz, na prossecução dos seus objetivos pessoais, sociais, profissionais e educativos, constituindo um direito humano básico num mundo digital e promovendo a inclusão social de todas as nações". Portanto, a literacia da informação é de extrema importância, pois não se liga, apenas, à leitura, à escrita e ao cálculo mas também às competências tecnológicas relacionadas com os computadores e a internet: a popularização de recursos como os blogues, as wikis e os sistemas de partilha de conteúdos em linha, caraterísticos da web 2.0, suscitaram uma apetência pela colaboração e pela interação com o mundo digital em que cada indivíduo pode não só ser consumidor mas também produtor de informação, mesmo não possuindo conhecimentos técnicos avançados.
            Maria Inês Peixoto Braga afirma que "literacia e Educação andam de mãos dadas, e a tal não será alheio o facto de serem reconhecidas como um Direito Humano, tendo-se registado um progressivo reconhecimento universal da importância da literacia, cada vez mais perspetivada como inegável fator do progresso individual do ser humano e das nações". Portanto, as escolas e as universidades devem contribuir para a formação dos alunos de modo a que estes consigam pesquisar, recuperar, avaliar e utilizar devidamente a informação de que necessitam. Esse papel deve ser desempenhado pelas bibliotecas, cujos profissionais, devido às competências adquiridas e aplicadas na organização, recuperação e avaliação da informação, devem estar aptos a participar nesta vertente da preparação dos alunos para o futuro: ter consciência das suas necessidades de informação; saber realizar pesquisas eficientes; interpretar dados e avaliar o valor das suas fontes. Estas competências são importantes para todos, pois fazemos parte duma economia global que exige formação ao longo da vida e o desempenho de uma cidadania plena. Por isso, compete às escolas/universidades preparar os alunos para um futuro numa era extremamente dinâmica, na qual é previsível que terão de se adaptar a novas situações e de se orientar num mundo digital complexo.
            Foram, no fundo, estes pressupostos que acabaram por conduzir à criação de vários modelos de literacia da informação: o modelo de Marland, 1981; o modelo PLUS, apresentado por Herring, em 1996; o Big 6, de Eisenberg & Berkowitz, em 2001, e o modelo de Christine Bruce, referido como "as sete faces da literacia da informação".
            Um estudo realizado no Reino Unido sobre a relevância das bibliotecas escolares sugere que "a biblioteca escolar, particularmente no ensino secundário, é a base natural para o ensino das competências de informação" (Grã Bretanha, Department of National Heritage, 1995: 53, citado por Calixto).  Por isso, os profissionais das bibliotecas devem manter-se a par da evolução tecnológica e procurar tirar partido dos meios disponíveis, de modo a contribuírem para a concretização das metas das instituições onde se inserem, promovendo a literacia da informação. O próprio Manifesto da UNESCO sobre bibliotecas escolares reforça esta ideia ao apontar que um dos objetivos das bibliotecas escolares é "apoiar os estudantes na aprendizagem e prática de capacidades de avaliação e utilização da informação, independentemente da natureza, suporte ou meio, usando de sensibilidade relativamente aos modos de comunicação de cada comunidade".
            Portugal apresenta índices muito baixos de literacia que tem de ultrapassar quer através de esforços para a implementação de ações de modernização e melhoria das qualificações escolar e profissional de jovens e adultos quer através da modernização tecnológica do ensino. É indispensável o papel dos diferentes agentes na implementação de ações e medidas, mas o que é verdadeiramente essencial é o estabelecimento de uma política educativa que trabalhe a articulação entre os diferentes agentes/atores e evidencie um  verdadeiro interesse e compromisso para com o problema da literacia da informação em Portugal.
            Concluindo, se os professores não estiverem sensibilizados e compreendam a necessidade da literacia da informação, continua-se na mesma, uma vez que os professores bibliotecários não se podem impor ou obrigar os docentes a aceitarem a sua ajuda. Os professores, em geral, é que devem tomar consciência que não dominam tudo e que existem profissionais que os podem ajudar a ultrapassar algumas dificuldades e facilitar-lhes todo o processo, continuando a ser excelentes profissionais.

 

Bibliografia:

 

Alexandria Manifesto on Libraries, the Information Society in Action (2005). Página consultada em 3 de jan. 2012, < http://rcbp.dglb.pt/pt/ServProf/Documentacao/Paginas/Manifestos.aspx>.

Alvim, Luísa (2011), "As bibliotecas escolares portuguesas no Facebook e o seu papel na promoção da literacia da informação". In Congresso Nacional "Literacia, Media e Cidadania", 25-26 Março 2011, Braga, Universidade do Minho: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. ISBN 978-989-97244-1-9. Página consultada em 3 de jan. 2012, <http://www.lasics.uminho.pt/OJS/index.php/lmc/article/viewFile/469/440>.

American Library Association and the Association for Educational Communications and Technology (1998), " Information literacy standards for student learning". Página consultada em 11 de dez. 2011, < http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Textos_complementares_de_estudo_tema_3/Texto_de_estudo_para_o_Tema_3_Information_Literacy_Standards_obrigatorio.pdf>.

Bastos, Victor Manuel (2010), "Literacia de Informação. Paradigma de Desenvolvimento de Competências de Informação na Formação Docente em Angola". (Tese de mestrado). Página consultada em 4 de jan. 2012, <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4246/1/ulfl085104_tm.pdf>.

Belluzzo, R. C. B. (S. d.),  "Gestão da informação, do conhecimento e da documentação na educação". Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Textos_complementares_de_estudo_tema_3/Texto_de_estudo_para_o_Tema_3_Gestao_da_Informacao_do_conhecimento_e_da_documentacao_na_educacao_opcional.pdf>.

Braga, Maria Inês Peixoto, "Formação para a literacia da informação: uma interactividade necessária com os Media". Página consultada a 27 de dez. 2011, <http://www.cetacmedia.org/files/014_CICOM_Ines_Braga.pdf>.

Calixto, J. A. (S. d.), "Literacia da informação: um desafio para as bibliotecas". Página consultada a 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=1591161>.

Capurro, R. e Hjorland, B (2007), "O conceito de informação". In Perspectivas em Ciência da Informação, v.12, n.1, p. 148-207, jan./abr. 2007. Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Documentos/tema_3/Texto_de_estudo_para_o_Tema_3-_Conceito_de_Informacao_obrigatorio.pdf>.

Dudziak, E. A. (2003), "Information literacy: princípios, filosofia e prática". In Ci. Inf., Brasília, v. 32, n.1, p. 23-35, jan./abr.2003. Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=1591241>.

Internacional Association of School Librarianship (1999), O manifesto da IFLA - UNESCO das bibliotecas escolares. Declaração politica da IASL sobre bibliotecas escolares. Pág. consultada em 3 de jan. 2012, <http://migueloliveira.web.simplesnet.pt/manifestounescobibescolares.htm>.

Manifesto da Biblioteca Escolar. Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas. Página consultada em 2 de jan. 2012, <http://www.bm-ferreiradecastro.com/documentos/Manifesto%20para%20a%20Biblioteca%20Escolar.pdf>.

Melaré, D. (S. d.), "Competência virtual em ciência da informação". Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Documentos/tema_3/Power_point_de_estudo_para_o_Tema_3_Virtual_Literacy.pdf>.

Prole, António (2005), “O Papel das Bibliotecas Públicas Face ao Conceito de Literacia”, in Educação e Leitura, Atas do Seminário, pág. 31 a 41, Esposende, 27/28 de Outubro 2005. Página consultada em 3 jan. 2012, <http://195.23.38.178/casadaleitura/portalbeta/bo/documentos/ot_bibliotecas_literacia_a.pdf>.

Silva, A. M. B. M. e Marcial, V. F. (2010), "Novos resultados e elementos para a análise e debate sobre a literacia da informação em Portugal". In Inf. Inf., Londrina, v. 15, n. 1, p. 104-128, jan./jun. 2010. Página consultada em 3 jan. 2012, <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/viewFile/2907/5881>.

Tomé, Maria Conceição D. A. F. (2008), "A Biblioteca Escolar e o Desafio da Literacia da Informação: Um estudo empírico no Distrito de Viseu". (Tese de mestrado). Página consultada em 2 jan. 2012, <http://repositorioaberto.univ-ab.pt/bitstream/10400.2/1222/1/Tese.pdf>.

Vídeos disponibilizados pela professora Daniela Melaré

 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

George Siemens: Changing Schools, Changing Knowledge


What digital natives want from their library


O que é a Web 3.0?


A web 3.0 é a visão de uma era em que os motores de busca não se limitam a recolher e apresentar os dados que andam dispersos pela Internet, mas antes são capazes de "mastigar" essa informação e produzir respostas concretas.

Numa altura em que a Web 2.0 já se estabeleceu na vida dos internautas, que diariamente frequentam redes sociais como o Facebook e o Twitter, está na hora de abrir as portas à Web 3.0, o passo seguinte da evolução tecnológica num mundo em que as máquinas se aproximam cada vez mais do universo da inteligência artificial.

No começo era a Internet de primeira geração, dos motores de busca simplistas e dos emails, conceitos já de si revolucionários para quem toda a vida esteve dependente de bibliotecas, correios e telefones. Depois tudo mudou. A World Wide Web popularizou-se mundialmente e evoluiu num nanossegundo da História, comparativamente com o tempo de penetração da maioria dos outros inventos humanos até à data. Transformou-se na Web 2.0, a da computação social, dos “chats” em tempo real e das redes de amizade, do cruzamento de informações, da comunicação e da colaboração, das contribuições para a Wikipédia e dos mundos virtuais. Nos últimos cinco anos tem sido este o paradigma da web.

Na terceira fase que se adivinha para a Net – a da Web 3.0, também chamada de Web semântica, embora este sinónimo entre as duas ideias, forjado pelo “pai” da Web, Tim Berners-Lee, não esteja livre de polémica – pretende-se que a Rede organize e faça um uso ainda mais inteligente do conhecimento já disponibilizado online.

A Web 3.0 serve-se de software que vai aprendendo com o conteúdo que apanha na Internet, que analisa a popularidade desse conteúdo e chega a conclusões. Em vez de ter as pessoas a refinar os termos da pesquisa, a Web 3.0 será capaz de o fazer sozinha, aproximando-se do mundo da inteligência artificial.

Fazendo uma analogia simples: a diferença entre a Web 2.0 e a Web 3.0 é a diferença entre ter alguém que se limite a elencar todos os restaurantes aos quais poderei ir jantar hoje - desconhecendo que alguns desses restaurantes estarão fechados ou onde poderão servir comida que a mim, em particular, não me agrada -, e ter alguém a dizer-me exatamente onde é que eu posso ir comer, sabendo à partida qual é a minha localização geográfica, qual a hora que me é mais conveniente e quais as minhas preferências gastronómicas.

Em resumo: a diferença entre a Web 2.0 e a Web 3.0 é a diferença entre obter uma lista de respostas e uma solução concreta e personalizada para uma pergunta. É a diferença entre a sintaxe e a semântica.

“A Web semântica é uma extensão da atual Internet na qual é dado significado à informação, permitindo que computadores e pessoas trabalhem melhor em cooperação”. Foi assim que o próprio inventor da Web, Tim Berners-Lee, e Eric Miller a definiram, em Outubro de 2002.

Numa outra analogia, incluída num artigo de opinião da revista norte-americana Adweek, o modelo dos aparelhos existentes no mercado para gravar conteúdos televisivos (disponibilizados em Portugal pela Meo e pela Zon, e que, nos EUA, têm um homónimo mais abrangente, o TiVo) ajuda a explicar a maneira como funciona a Web 3.0. Se alguém tiver um interesse particular pelo actor George Clooney, o TiVo pode ser programado para gravar tudo o que passar na televisão sobre ele. Não apenas filmes: séries, publicidade, biografias, entrevistas e toda a espécie de conteúdos relacionados com o actor.

É isto que faz a Web 3.0: estreita a pesquisa e tenta dar ao o utilizador o que este realmente quer. E aqui poderá bater a polémica desta ferramenta, que ajuda a anular a casualidade. Perde-se o efeito-surpresa.

 
Motores de busca são o corolário da Web 3.0

 
A Web 3.0 é a visão de uma era em que os motores de busca não se limitam a recolher e apresentar os dados que andam dispersos pela Internet, mas antes são capazes de “mastigar” essa informação e produzir respostas concretas.

O motor de busca Wolfram Alpha – criado pelo cientista britânico Stephen Wolfram – pode ser um dos primeiros marcos desta nova Web 3.0. Aquilo que o site faz é dar uma resposta, em vez de remeter para potenciais respostas. Depois de feita uma pergunta ao Wolfram Alpha, o sistema processa as respostas recolhendo dados de várias páginas e bases que contenham unicamente informação relevante para essa pergunta em concreto. Este projeto, que há muito vinha a gerar algum “hype” na blogosfera especializada, foi oficialmente apresentado a 30 de Abril na Universidade de Harvard (EUA) e está em funcionamento desde o dia 18 de Maio.

A Microsoft também já anunciou o seu novo motor de busca, o Bing, com o qual espera fazer concorrência à hegemonia do Google. A ideia que a Microsft tem sublinhado nas apresentações do Bing é que não se trata apenas de um motor de pesquisa, mas, antes, de um “motor de decisão” (decision engine é o termo usado pela multinacional americana).

Simultaneamente, a Google já lançou, embora ainda em fase experimental, o Google Squared, com o mesmo objetivo de responder a perguntas concretas dos internautas, filtrando e interpretando os resultados. O Squared extrai informação da Web e apresenta os dados de forma estruturada, em tabelas.

Para que esta Web semântica venha a produzir resultados é preciso que se massifique o uso de software e linguagens informáticas específicas, a fim de que seja produzido mais conteúdo que as máquinas possam usar e que lhes permitam chegar a conclusões e não apenas a resultados com base em palavras-chave. O caminho já está aberto.


Texto escrito por Susana Almeida Ribeiro   29/06/2009

Fonte: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/o-que-e-a-web-30-1389325?fb_action_ids=10201559371564582&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B483243808394899%5D&action_type_map=%5B%22og.recommends%22%5D&action_ref_map=%5B%5D

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"As TIC em contexto educativo"

Algumas reflexões sobre "As TIC em contexto escolar":

Os grandes desafios da Sociedade da Informação prendem-se com as TIC, de forma particular com os meios informáticos e a Internet.

As tecnologias informáticas têm um grande impacto nas organizações sociais e implicações diretas na qualidade de vida e na educação.

Segundo Silva (citado por Candeias & Silva, 2008: 142), " Para o sistema educativo e seus agentes o grande desafio consiste em compreender a chegada do tempo de tecnologias que dão oportunidades de redesenhar as fronteiras de uma escola aberta aos contextos sociais e culturais, à diversidade dos alunos, aos seus conhecimentos, experimentações e interesses, enfim, em instituir-se como uma verdadeira comunidade de aprendizagem".

Mas o que está a ser feito para que isto aconteça? Que mudanças significativas encontramos no processo ensino-aprendizagem? De que modo o uso das TIC está a favorecer a aprendizagem dos alunos? Que alterações metodológicas os docentes estão a introduzir no processo ensino-aprendizagem que justifique a utilização das TIC?

Dias (citado por Candeias & Silva, 2008: 143) afirma que "as Tecnologias da Informação e da Comunicação estão a tornar-se um dos principais responsáveis pelas transformações que se verificam no campo da educação". Mas que transformações? Utilização do moodle como simples repositório de informação? Ou a utilização de outras ferramentas com o mesmo objetivo?

Mudanças, no que se refere à educação, tenho-as encontrado no ensino superior, mas no que diz respeito ao 3º ciclo e secundário, por exemplo, não tenho visto nenhumas.

Os alunos, nativos digitais, querem o computador não para trabalhar os conteúdos, mas para jogar, para ir ao facebook e outras coisas ainda piores. Os conteúdos não lhes interessam, não os motivam, não lhes dizem nada e nem o uso das tecnologias os motiva para a aprendizagem.
 
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Como refere Fátima Goulão (2012: 15), "a utilização das TIC per si não é suficiente para garantir a inovação e uma efetiva aprendizagem". Ao utilizar as TIC, o docente deve pensar e compreender de que modo estas o vão ajudar no processo ensino-aprendizagem, pois nem todas as ferramentas da Web 2.0 têm os mesmos objetivos ou nos permitem atingir as mesmos fins.
Temos de ter um conhecimento mais ou menos alargado dessas ferramentas, conhecermos as suas potencialidades e vermos se elas vão ao encontro da maneira de ser dos nossos alunos e dos objetivos que pretendemos alcançar, pois o sucesso da utilização das tecnologias é fundamentalmente uma questão pedagógica.
Não devemos esquecer que as novas tecnologias são apenas recursos que devemos adotar ao ensino, subordinando-os às nossas finalidades e enquadrando-os em estratégias de ensino fundamentadas e justificadas pelo que se pretende.
Como é sublinhado por Alda Pereira, "clarificar, previamente, o que se pretende com a introdução de uma tecnologia é [...] um dos fatores de êxito do seu uso, perspetivado como um suporte de experiências de aprendizagem enriquecedoras para os estudantes".
 
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O desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação tem sido um agente relevante de aprendizagem que conduz à expansão das oportunidades de combinação de recursos tecnológicos e humanos. Por isso, é fundamental que a biblioteca escolar integre os recursos tecnológicos que propiciem acesso a diversas formas literárias por pessoas de diferentes idades.
Muitas são as ferramentas disponíveis para permitir a aprendizagem através dos novos ambientes virtuais de aprendizagem, como, por exemplo, blogues, wikis, podcasts, eportefolios, social networking, social bookmarking, photo sharing, second life, fóruns online, vídeo messaging, youtube, audiographics, entre outras.
Através da utilização dos ambientes virtuais de aprendizagem pretende-se fomentar nos alunos habilidades de aprendizagem autónoma, desenvolver habilidades de construção de conhecimento e motivar para a aprendizagem contínua.
A biblioteca escolar pode tirar proveito das potencialidades de qualquer uma das ferramentas enumeradas para a consecução da sua missão e dos seus objetivos. Pode usar o wiki, por exemplo, para o aprofundamento do estudo de um determinado autor, proporcionando o trabalho colaborativo na construção de uma bibliografia anotada, colaborativa. O wiki tem a vantagem de ser assíncrona e deixar rastro de participação dos utilizadores. É colaborativo, aberto, tendo como objetivo a construção coletiva de um texto ou produção comum, de cuja autoria todos participam, não existindo propriamente uma versão final.
Os blogues permitem a divulgação de textos e a possibilidade de serem comentados livremente. A biblioteca escolar pode recorrer a este ambiente virtual de aprendizagem para publicar os textos relativos às atividades desenvolvidas, permitindo comentários, provocando um feedback rápido e atualizado.
O social bookmarking é excelente para grupos, pois permite-lhes criar uma rede para partilhar recursos considerados relevantes durante a construção de um projeto. É a ferramenta ideal pra processos de pesquisa, uma vez que possibilita seguir as pegadas de materiais e comentários online.
O que se pretende com a utilização dos recursos em ambientes virtuais de aprendizagem é a autonomia para a criação, é a capacidade criativa, é saber desconstruir e construir conhecimento, é argumentar e contra-argumentar, é saber ler e contra ler; o mesmo pretende a biblioteca escolar. Portanto, a biblioteca escolar só tem vantagens se se potencializar através do uso dos ambientes virtuais de aprendizagem.
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O mundo das tecnologias pula e avança, surpreendendo-nos todos os dias e, curiosamente, muitos profissionais da educação continuam a não tirar proveito das enormes vantagens das ferramentas digitais disponíveis, todas elas facilitadoras da organização e execução do trabalho. De acordo com o perfil de competências definido no Manifesto da Biblioteca Escolar e na Portaria nº 756, os professores bibliotecários devem ser portadores de competências sólidas nos domínios das literacias da informação e da comunicação, facilitadoras da realização do trabalho colaborativo nas bibliotecas e nas práticas pedagógicas.
Penso que todos nós temos desafios importantes pela frente no que diz respeito ao trabalho colaborativo, porque nos cabe a tarefa de realizar com os alunos atividades com recursos interativos e multimédia e com aproveitamento dos espaços online síncronos e de ferramentas Web 2.0, facilitadoras dos processos de comunicação, negociação e interação. Numa época de franca vulgarização das TIC e do mundo digital, temos realmente muitas oportunidades para introduzir o trabalho colaborativo nas nossas práticas pedagógicas.
Com a evolução da Sociedade da Informação e consequente necessidade de uma rápida aprendizagem tecnológica e global dos cidadãos, cabe à escola cumprir esse objetivo de forma mais global possível, contribuindo assim, desde os mais novos, para a formação integral do cidadão com um futuro desempenho social cada vez mais dependente da tecnologia. É neste contexto que as TIC se integram nas escolas, abrindo caminho para uma maior familiarização com esta área do conhecimento. Apesar de as TIC serem assumidas no Currículo Nacional do Ensino Básico em Portugal como “formação transdisciplinar”, devendo “conduzir, no âmbito da escolaridade obrigatória, a uma certificação da aquisição de competências básicas neste domínio” (Decreto-Lei 6/2001), não é isso que se verifica, por isso, surgem as Metas de Aprendizagem TIC com a indicação do que os alunos deverão adquirir nessa área ao longo do percurso escolar.
O projeto “Metas de Aprendizagem” acabou por constituir uma excelente oportunidade, para se equacionar, de uma forma sistemática, a definição do que os alunos deverão adquirir na área das TIC ao longo e em cada uma das fases do seu percurso escolar.
As Metas de Aprendizagem TIC partem do pressuposto de que as TIC desempenham um papel central na sociedade atual e que as formas de comunicação, de acesso à informação e de produção de conhecimento que elas propiciam não só fazem parte dos referentes culturais dos jovens, mas também que nelas reside um elevado potencial para a promoção do desenvolvimento global dos indivíduos, da sociedade e da missão nuclear da própria escola.
As Metas de Aprendizagem TIC são uma mais-valia para o trabalho quer do professor, quer do professor bibliotecário, uma vez que apontam as áreas de competência a atingir pelos alunos em cada um dos ciclos. Como refere o documento "Metas de Aprendizagem”, para o Pré-escolar, “a definição destas aprendizagens tem como propósito último servir de orientação para educadores de infância relativamente à selecção de estratégias de ensino e de avaliação dos resultados da aprendizagem. Podendo ainda ser útil a pais e outros adultos com responsabilidades na educação de crianças desta faixa etária”. O mesmo documento acrescenta, ainda, que “importa sublinhar que as aprendizagens visadas nesta faixa etária não são propriamente aquelas que dizem respeito ao conhecimento sobre o funcionamento dos equipamentos, dos programas ou dos recursos digitais. Mais do que isso, importa tirar partido do seu potencial para proporcionar às crianças melhores e mais ricas experiências de aprendizagem, valorizando as relações e interacções que as crianças estabelecem entre diferentes sistemas sociais com características específicas (e.g. casa, sala de aula, rua)”.  Relativamente ao 1º ciclo o documento refere que “mais do que um currículo autónomo, a ideia nuclear é a de que estas metas constituam o referencial a considerar por cada professor na sua área específica, numa óptica de desenvolvimento global do aluno, permitindo-lhe compreender em que matérias, para que fins e como será adequado e pertinente mobilizar as TIC”. Protagoniza, ainda, a ideia de que “a operacionalização das metas de aprendizagem na área das TIC assenta numa lógica de interacção entre os diferentes campos do conhecimento científico que compõem o Currículo (áreas disciplinares/curriculares), em articulação estreita com as aquisições de natureza transversal estruturantes do desenvolvimento global do indivíduo, dando origem a uma estrutura de áreas de competência organizadas, em função da sua especificidade”.
O referido documento aponta também um conjunto de estratégias de operacionalização, atividades e tarefas adequadas, para que os alunos, do pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclos, sob orientação dos docentes, possam tirar vantagens das tecnologias digitais.
A biblioteca escolar/professor bibliotecário são imprescindíveis neste processo dado que a BE proporciona ambientes formativos e de acolhimento promotores da leitura, de uma cidadania ativa e da aprendizagem ao longo da vida. A biblioteca escolar tem um importante papel a desempenhar na promoção e desenvolvimento de literacias que permitirão aos alunos a integração efetiva, profícua e feliz na Sociedade da Informação. As bibliotecas escolares, na definição/programação/planificação de atividades com professores e alunos deverão ter sempre em consideração as Metas de Aprendizagem TIC referentes à literacia digital para que as áreas de competências – informação, comunicação, produção e segurança – se constituam como pilares das restantes literacias, nomeadamente as que são definidas no documento “Aprender com a Biblioteca Escolar”: literacia da leitura, literacia dos média e literacia da informação.
O aluno, ao terminar o Ensino Básico, deverá ser capaz de pesquisar, selecionar e organizar informação para a transformar em conhecimento mobilizável e adotar estratégias adequadas à resolução de problemas e à tomada de decisões. A biblioteca escolar é o espaço e o recurso por excelência para a concertação de esforços na promoção e desenvolvimento da literacia da informação, cumprindo os objetivos que estão consignados nos documentos referenciais, nomeadamente o Manifesto da Biblioteca Escolar (IFLA/UNESCO, 1999) e a Declaração Política da IASL sobre Bibliotecas Escolares (IASL, 1993) e que o recente referencial emanado pela RBE vem reforçar e orientar.
Portanto, o documento “Aprender com a biblioteca escolar – referencial de aprendizagens associadas ao trabalho das bibliotecas escolares na Educação Pré-escolar e no Ensino Básico” é uma mais-valia, uma referência para o desenvolvimento de atividades com os docentes, pois aponta para estratégias de operacionalização para cada umas das literacias – leitura, média e informação – bem como sugere atividades a desenvolver pelos professores de forma articulada com a biblioteca escolar. Com efeito, reunidos no espaço da biblioteca escolar, os recursos informacionais constituem-se como um excelente manancial para proporcionar o desenvolvimento de conhecimentos, competências e atitudes necessários para se viver na Sociedade da Informação, quer sejam utilizados por iniciativa dos alunos, quer por iniciativa dos professores na preparação e implementação de atividades letivas diversificadas, ao serviço de uma aprendizagem baseada em recursos.
O desenvolvimento de projetos articulados entre os professores e a biblioteca escolar é a melhor forma de articular as Metas de Aprendizagem TIC com as competências necessárias às diferentes áreas de literacia, pois a biblioteca é o espaço privilegiado para a agregação de diferentes saberes.
Referências:
CANDEIAS, M. I & SILVA, J. A. (2008). A nossa sala de aula já é maior que o planeta Terra!. [Em linha]. In Educação, Formação & Tecnologias; vol. 1(1), pp. 142- 152. Disponível em http://eft.educom.pt.
 DECRETO-LEI nº 6/2001. D.R. I Série - A (2001-01-18) 258-265. [Em linha]. Disponível em http://www.gave.min-edu.pt/np3content/?newsId=31&fileName=decreto_lei_6_2001.pdf
 IASL (1993). Declaração política da IASL sobre bibliotecas escolares. [Em linha]. Disponível em http://www.oei.es/pdfs/rbe5.pdf.
IFLA/UNESCO (1999). Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA/UNESCO. [Em linha]. Disponível em http://archive.ifla.org/VII/s11/pubs/portug.pdf.
MOREIRA, J. A. e MONTEIRO, A. (2012). Ensinar e aprender online com tecnologias digitais: abordagens teóricas e metodológicas. Porto: Porto Editora.
 

 


Tópico 1


TEMA I

Utilização das tecnologias de informação e comunicação em contexto educativo

 

 SUMÁRIO

 A tecnologia aplicada à educação em Portugal: origens e evolução.

A tecnologia e os processos de ensino aprendizagem.