O
conceito literacia da informação é relativamente recente, estando o seu
aparecimento associado ao advento das Tecnologias da Informação e da
Comunicação e à necessidade de se encontrar uma designação para as competências
que, no contexto da Sociedade da Informação, são exigidas aos cidadãos.
O
conceito tradicional de literacia relaciona-se com a capacidade de entender,
compreender e redigir textos. O desenvolvimento das Tecnologias da Comunicação
e a consequente proliferação da informação conduziram a uma transformação do
conceito no sentido de este passar a abranger saberes e competências
fundamentais à interação com a tecnologia e à obtenção de informação através
dela. É aí que surge, como já foi referido, a expressão "literacia da
informação", associada à exigência de um novo conjunto de competências
para o acesso e utilização da informação, tornando-se um atributo decisivo na
sociedade contemporânea, indispensável à autonomia na aprendizagem ao longo da
vida.
As
definições de literacia de informação, avançadas quer por organizações quer por
estudiosos, têm sido várias, no entanto, a mais frequentemente citada é a da
American Library Association a qual refere que um indivíduo com competências de
informação "deve ser capaz de reconhecer quando a informação é necessária,
e ter capacidades para a localizar, avaliar e usar eficazmente (ALA, 1989,
citado por Calixto).
Segundo
a declaração de princípios da AmericanLibrary Association (Association of
College and Research Libraries, 2000, citado por Calixto) aquele que possui
literacia da informação deverá ser capaz de determinar a extensão da informação
de que necessita; aceder à informação de que necessita de modo eficaz e
eficiente; incorporar a informação selecionada na sua base de conhecimentos;
usar a informação eficazmente de modo a conseguir um objetivo específico;
compreender as questões económicas, legais e sociais que envolvem o uso da
informação e aceder e utilizar a informação de modo ético e legal.
A
UNESCO/IFLA (2005), através da Proclamação de Alexandria, refere que "a
literacia da informação habilita os indivíduos em todas as etapas da sua vida
para a procura, avaliação, uso e criação de informação de modo eficaz, na
prossecução dos seus objetivos pessoais, sociais, profissionais e educativos,
constituindo um direito humano básico num mundo digital e promovendo a inclusão
social de todas as nações". Portanto, a literacia da informação é de
extrema importância, pois não se liga, apenas, à leitura, à escrita e ao
cálculo mas também às competências tecnológicas relacionadas com os
computadores e a internet: a popularização de recursos como os blogues, as
wikis e os sistemas de partilha de conteúdos em linha, caraterísticos da web
2.0, suscitaram uma apetência pela colaboração e pela interação com o mundo
digital em que cada indivíduo pode não só ser consumidor mas também produtor de
informação, mesmo não possuindo conhecimentos técnicos avançados.
Maria
Inês Peixoto Braga afirma que "literacia e Educação andam de mãos dadas, e
a tal não será alheio o facto de serem reconhecidas como um Direito Humano,
tendo-se registado um progressivo reconhecimento universal da importância da
literacia, cada vez mais perspetivada como inegável fator do progresso
individual do ser humano e das nações". Portanto, as escolas e as
universidades devem contribuir para a formação dos alunos de modo a que estes
consigam pesquisar, recuperar, avaliar e utilizar devidamente a informação de
que necessitam. Esse papel deve ser desempenhado pelas bibliotecas, cujos
profissionais, devido às competências adquiridas e aplicadas na organização,
recuperação e avaliação da informação, devem estar aptos a participar nesta
vertente da preparação dos alunos para o futuro: ter consciência das suas
necessidades de informação; saber realizar pesquisas eficientes; interpretar
dados e avaliar o valor das suas fontes. Estas competências são importantes
para todos, pois fazemos parte duma economia global que exige formação ao longo
da vida e o desempenho de uma cidadania plena. Por isso, compete às
escolas/universidades preparar os alunos para um futuro numa era extremamente
dinâmica, na qual é previsível que terão de se adaptar a novas situações e de
se orientar num mundo digital complexo.
Foram,
no fundo, estes pressupostos que acabaram por conduzir à criação de vários
modelos de literacia da informação: o modelo de Marland, 1981; o modelo PLUS,
apresentado por Herring, em 1996; o Big 6, de Eisenberg & Berkowitz, em
2001, e o modelo de Christine Bruce, referido como "as sete faces da
literacia da informação".
Um
estudo realizado no Reino Unido sobre a relevância das bibliotecas escolares
sugere que "a biblioteca escolar, particularmente no ensino secundário, é
a base natural para o ensino das competências de informação" (Grã
Bretanha, Department of National Heritage, 1995: 53, citado por Calixto). Por isso, os profissionais das bibliotecas
devem manter-se a par da evolução tecnológica e procurar tirar partido dos
meios disponíveis, de modo a contribuírem para a concretização das metas das
instituições onde se inserem, promovendo a literacia da informação. O próprio
Manifesto da UNESCO sobre bibliotecas escolares reforça esta ideia ao apontar
que um dos objetivos das bibliotecas escolares é "apoiar os estudantes na
aprendizagem e prática de capacidades de avaliação e utilização da informação,
independentemente da natureza, suporte ou meio, usando de sensibilidade
relativamente aos modos de comunicação de cada comunidade".
Portugal
apresenta índices muito baixos de literacia que tem de ultrapassar quer através
de esforços para a implementação de ações de modernização e melhoria das
qualificações escolar e profissional de jovens e adultos quer através da modernização
tecnológica do ensino. É indispensável o papel dos diferentes agentes na
implementação de ações e medidas, mas o que é verdadeiramente essencial é o
estabelecimento de uma política educativa que trabalhe a articulação entre os
diferentes agentes/atores e evidencie um
verdadeiro interesse e compromisso para com o problema da literacia da
informação em Portugal.
Concluindo,
se os professores não estiverem sensibilizados e compreendam a necessidade da
literacia da informação, continua-se na mesma, uma vez que os professores
bibliotecários não se podem impor ou obrigar os docentes a aceitarem a sua
ajuda. Os professores, em geral, é que devem tomar consciência que não dominam
tudo e que existem profissionais que os podem ajudar a ultrapassar algumas dificuldades
e facilitar-lhes todo o processo, continuando a ser excelentes profissionais.
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Daniela Melaré
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