terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Literacia da informação

            O conceito literacia da informação é relativamente recente, estando o seu aparecimento associado ao advento das Tecnologias da Informação e da Comunicação e à necessidade de se encontrar uma designação para as competências que, no contexto da Sociedade da Informação, são exigidas aos cidadãos.
            O conceito tradicional de literacia relaciona-se com a capacidade de entender, compreender e redigir textos. O desenvolvimento das Tecnologias da Comunicação e a consequente proliferação da informação conduziram a uma transformação do conceito no sentido de este passar a abranger saberes e competências fundamentais à interação com a tecnologia e à obtenção de informação através dela. É aí que surge, como já foi referido, a expressão "literacia da informação", associada à exigência de um novo conjunto de competências para o acesso e utilização da informação, tornando-se um atributo decisivo na sociedade contemporânea, indispensável à autonomia na aprendizagem ao longo da vida.
            As definições de literacia de informação, avançadas quer por organizações quer por estudiosos, têm sido várias, no entanto, a mais frequentemente citada é a da American Library Association a qual refere que um indivíduo com competências de informação "deve ser capaz de reconhecer quando a informação é necessária, e ter capacidades para a localizar, avaliar e usar eficazmente (ALA, 1989, citado por Calixto).
            Segundo a declaração de princípios da AmericanLibrary Association (Association of College and Research Libraries, 2000, citado por Calixto) aquele que possui literacia da informação deverá ser capaz de determinar a extensão da informação de que necessita; aceder à informação de que necessita de modo eficaz e eficiente; incorporar a informação selecionada na sua base de conhecimentos; usar a informação eficazmente de modo a conseguir um objetivo específico; compreender as questões económicas, legais e sociais que envolvem o uso da informação e aceder e utilizar a informação de modo ético e legal.
            A UNESCO/IFLA (2005), através da Proclamação de Alexandria, refere que "a literacia da informação habilita os indivíduos em todas as etapas da sua vida para a procura, avaliação, uso e criação de informação de modo eficaz, na prossecução dos seus objetivos pessoais, sociais, profissionais e educativos, constituindo um direito humano básico num mundo digital e promovendo a inclusão social de todas as nações". Portanto, a literacia da informação é de extrema importância, pois não se liga, apenas, à leitura, à escrita e ao cálculo mas também às competências tecnológicas relacionadas com os computadores e a internet: a popularização de recursos como os blogues, as wikis e os sistemas de partilha de conteúdos em linha, caraterísticos da web 2.0, suscitaram uma apetência pela colaboração e pela interação com o mundo digital em que cada indivíduo pode não só ser consumidor mas também produtor de informação, mesmo não possuindo conhecimentos técnicos avançados.
            Maria Inês Peixoto Braga afirma que "literacia e Educação andam de mãos dadas, e a tal não será alheio o facto de serem reconhecidas como um Direito Humano, tendo-se registado um progressivo reconhecimento universal da importância da literacia, cada vez mais perspetivada como inegável fator do progresso individual do ser humano e das nações". Portanto, as escolas e as universidades devem contribuir para a formação dos alunos de modo a que estes consigam pesquisar, recuperar, avaliar e utilizar devidamente a informação de que necessitam. Esse papel deve ser desempenhado pelas bibliotecas, cujos profissionais, devido às competências adquiridas e aplicadas na organização, recuperação e avaliação da informação, devem estar aptos a participar nesta vertente da preparação dos alunos para o futuro: ter consciência das suas necessidades de informação; saber realizar pesquisas eficientes; interpretar dados e avaliar o valor das suas fontes. Estas competências são importantes para todos, pois fazemos parte duma economia global que exige formação ao longo da vida e o desempenho de uma cidadania plena. Por isso, compete às escolas/universidades preparar os alunos para um futuro numa era extremamente dinâmica, na qual é previsível que terão de se adaptar a novas situações e de se orientar num mundo digital complexo.
            Foram, no fundo, estes pressupostos que acabaram por conduzir à criação de vários modelos de literacia da informação: o modelo de Marland, 1981; o modelo PLUS, apresentado por Herring, em 1996; o Big 6, de Eisenberg & Berkowitz, em 2001, e o modelo de Christine Bruce, referido como "as sete faces da literacia da informação".
            Um estudo realizado no Reino Unido sobre a relevância das bibliotecas escolares sugere que "a biblioteca escolar, particularmente no ensino secundário, é a base natural para o ensino das competências de informação" (Grã Bretanha, Department of National Heritage, 1995: 53, citado por Calixto).  Por isso, os profissionais das bibliotecas devem manter-se a par da evolução tecnológica e procurar tirar partido dos meios disponíveis, de modo a contribuírem para a concretização das metas das instituições onde se inserem, promovendo a literacia da informação. O próprio Manifesto da UNESCO sobre bibliotecas escolares reforça esta ideia ao apontar que um dos objetivos das bibliotecas escolares é "apoiar os estudantes na aprendizagem e prática de capacidades de avaliação e utilização da informação, independentemente da natureza, suporte ou meio, usando de sensibilidade relativamente aos modos de comunicação de cada comunidade".
            Portugal apresenta índices muito baixos de literacia que tem de ultrapassar quer através de esforços para a implementação de ações de modernização e melhoria das qualificações escolar e profissional de jovens e adultos quer através da modernização tecnológica do ensino. É indispensável o papel dos diferentes agentes na implementação de ações e medidas, mas o que é verdadeiramente essencial é o estabelecimento de uma política educativa que trabalhe a articulação entre os diferentes agentes/atores e evidencie um  verdadeiro interesse e compromisso para com o problema da literacia da informação em Portugal.
            Concluindo, se os professores não estiverem sensibilizados e compreendam a necessidade da literacia da informação, continua-se na mesma, uma vez que os professores bibliotecários não se podem impor ou obrigar os docentes a aceitarem a sua ajuda. Os professores, em geral, é que devem tomar consciência que não dominam tudo e que existem profissionais que os podem ajudar a ultrapassar algumas dificuldades e facilitar-lhes todo o processo, continuando a ser excelentes profissionais.

 

Bibliografia:

 

Alexandria Manifesto on Libraries, the Information Society in Action (2005). Página consultada em 3 de jan. 2012, < http://rcbp.dglb.pt/pt/ServProf/Documentacao/Paginas/Manifestos.aspx>.

Alvim, Luísa (2011), "As bibliotecas escolares portuguesas no Facebook e o seu papel na promoção da literacia da informação". In Congresso Nacional "Literacia, Media e Cidadania", 25-26 Março 2011, Braga, Universidade do Minho: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. ISBN 978-989-97244-1-9. Página consultada em 3 de jan. 2012, <http://www.lasics.uminho.pt/OJS/index.php/lmc/article/viewFile/469/440>.

American Library Association and the Association for Educational Communications and Technology (1998), " Information literacy standards for student learning". Página consultada em 11 de dez. 2011, < http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Textos_complementares_de_estudo_tema_3/Texto_de_estudo_para_o_Tema_3_Information_Literacy_Standards_obrigatorio.pdf>.

Bastos, Victor Manuel (2010), "Literacia de Informação. Paradigma de Desenvolvimento de Competências de Informação na Formação Docente em Angola". (Tese de mestrado). Página consultada em 4 de jan. 2012, <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4246/1/ulfl085104_tm.pdf>.

Belluzzo, R. C. B. (S. d.),  "Gestão da informação, do conhecimento e da documentação na educação". Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Textos_complementares_de_estudo_tema_3/Texto_de_estudo_para_o_Tema_3_Gestao_da_Informacao_do_conhecimento_e_da_documentacao_na_educacao_opcional.pdf>.

Braga, Maria Inês Peixoto, "Formação para a literacia da informação: uma interactividade necessária com os Media". Página consultada a 27 de dez. 2011, <http://www.cetacmedia.org/files/014_CICOM_Ines_Braga.pdf>.

Calixto, J. A. (S. d.), "Literacia da informação: um desafio para as bibliotecas". Página consultada a 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=1591161>.

Capurro, R. e Hjorland, B (2007), "O conceito de informação". In Perspectivas em Ciência da Informação, v.12, n.1, p. 148-207, jan./abr. 2007. Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Documentos/tema_3/Texto_de_estudo_para_o_Tema_3-_Conceito_de_Informacao_obrigatorio.pdf>.

Dudziak, E. A. (2003), "Information literacy: princípios, filosofia e prática". In Ci. Inf., Brasília, v. 32, n.1, p. 23-35, jan./abr.2003. Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?inpopup=true&id=1591241>.

Internacional Association of School Librarianship (1999), O manifesto da IFLA - UNESCO das bibliotecas escolares. Declaração politica da IASL sobre bibliotecas escolares. Pág. consultada em 3 de jan. 2012, <http://migueloliveira.web.simplesnet.pt/manifestounescobibescolares.htm>.

Manifesto da Biblioteca Escolar. Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas. Página consultada em 2 de jan. 2012, <http://www.bm-ferreiradecastro.com/documentos/Manifesto%20para%20a%20Biblioteca%20Escolar.pdf>.

Melaré, D. (S. d.), "Competência virtual em ciência da informação". Página consultada em 11 de dez. 2011, <http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/file.php/36211/Documentos/tema_3/Power_point_de_estudo_para_o_Tema_3_Virtual_Literacy.pdf>.

Prole, António (2005), “O Papel das Bibliotecas Públicas Face ao Conceito de Literacia”, in Educação e Leitura, Atas do Seminário, pág. 31 a 41, Esposende, 27/28 de Outubro 2005. Página consultada em 3 jan. 2012, <http://195.23.38.178/casadaleitura/portalbeta/bo/documentos/ot_bibliotecas_literacia_a.pdf>.

Silva, A. M. B. M. e Marcial, V. F. (2010), "Novos resultados e elementos para a análise e debate sobre a literacia da informação em Portugal". In Inf. Inf., Londrina, v. 15, n. 1, p. 104-128, jan./jun. 2010. Página consultada em 3 jan. 2012, <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/viewFile/2907/5881>.

Tomé, Maria Conceição D. A. F. (2008), "A Biblioteca Escolar e o Desafio da Literacia da Informação: Um estudo empírico no Distrito de Viseu". (Tese de mestrado). Página consultada em 2 jan. 2012, <http://repositorioaberto.univ-ab.pt/bitstream/10400.2/1222/1/Tese.pdf>.

Vídeos disponibilizados pela professora Daniela Melaré

 

Sem comentários:

Enviar um comentário