Os
grandes desafios da Sociedade da Informação prendem-se com as TIC, de forma
particular com os meios informáticos e a Internet.
As
tecnologias informáticas têm um grande impacto nas organizações sociais e
implicações diretas na qualidade de vida e na educação.
Segundo
Silva (citado por Candeias & Silva, 2008: 142), " Para o sistema educativo e seus
agentes o grande desafio consiste em compreender a chegada do tempo de
tecnologias que dão oportunidades de redesenhar as fronteiras de uma escola
aberta aos contextos sociais e culturais, à diversidade dos alunos, aos seus
conhecimentos, experimentações e interesses, enfim, em instituir-se como uma
verdadeira comunidade de aprendizagem".
Mas o
que está a ser feito para que isto aconteça? Que mudanças significativas
encontramos no processo ensino-aprendizagem? De que modo o uso das TIC está a
favorecer a aprendizagem dos alunos? Que alterações metodológicas os docentes
estão a introduzir no processo ensino-aprendizagem que justifique a utilização
das TIC?
Dias
(citado por Candeias & Silva, 2008: 143) afirma que "as Tecnologias da
Informação e da Comunicação estão a tornar-se um dos principais responsáveis
pelas transformações que se verificam no campo da educação". Mas que
transformações? Utilização do moodle como simples repositório de informação? Ou
a utilização de outras ferramentas com o mesmo objetivo?
Mudanças,
no que se refere à educação, tenho-as encontrado no ensino superior, mas no que
diz respeito ao 3º ciclo e secundário, por exemplo, não tenho visto nenhumas.
Os
alunos, nativos digitais, querem o computador não para trabalhar os conteúdos,
mas para jogar, para ir ao facebook e outras coisas ainda piores. Os conteúdos
não lhes interessam, não os motivam, não lhes dizem nada e nem o uso das
tecnologias os motiva para a aprendizagem.
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Como
refere Fátima Goulão (2012: 15), "a utilização das TIC per si não é suficiente para garantir a
inovação e uma efetiva aprendizagem". Ao utilizar as TIC, o docente deve
pensar e compreender de que modo estas o vão ajudar no processo
ensino-aprendizagem, pois nem todas as ferramentas da Web 2.0 têm os mesmos
objetivos ou nos permitem atingir as mesmos fins.
Temos
de ter um conhecimento mais ou menos alargado dessas ferramentas, conhecermos
as suas potencialidades e vermos se elas vão ao encontro da maneira de ser dos
nossos alunos e dos objetivos que pretendemos alcançar, pois o sucesso da
utilização das tecnologias é fundamentalmente uma questão pedagógica.
Não
devemos esquecer que as novas tecnologias são apenas recursos que devemos
adotar ao ensino, subordinando-os às nossas finalidades e enquadrando-os em
estratégias de ensino fundamentadas e justificadas pelo que se pretende.
Como
é sublinhado por Alda Pereira, "clarificar, previamente, o que se pretende
com a introdução de uma tecnologia é [...] um dos fatores de êxito do seu uso,
perspetivado como um suporte de experiências de aprendizagem enriquecedoras
para os estudantes".
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O
desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação tem sido um
agente relevante de aprendizagem que conduz à expansão das oportunidades de
combinação de recursos tecnológicos e humanos. Por isso, é fundamental que a
biblioteca escolar integre os recursos tecnológicos que propiciem acesso a
diversas formas literárias por pessoas de diferentes idades.
Muitas
são as ferramentas disponíveis para permitir a aprendizagem através dos novos
ambientes virtuais de aprendizagem, como, por exemplo, blogues, wikis,
podcasts, eportefolios, social networking, social bookmarking, photo sharing, second
life, fóruns online, vídeo messaging, youtube, audiographics, entre outras.
Através
da utilização dos ambientes virtuais de aprendizagem pretende-se fomentar nos
alunos habilidades de aprendizagem autónoma, desenvolver habilidades de
construção de conhecimento e motivar para a aprendizagem contínua.
A
biblioteca escolar pode tirar proveito das potencialidades de qualquer uma das
ferramentas enumeradas para a consecução da sua missão e dos seus objetivos.
Pode usar o wiki, por exemplo, para o aprofundamento do estudo de um
determinado autor, proporcionando o trabalho colaborativo na construção de uma
bibliografia anotada, colaborativa. O wiki tem a vantagem de ser assíncrona e
deixar rastro de participação dos utilizadores. É colaborativo, aberto, tendo
como objetivo a construção coletiva de um texto ou produção comum, de cuja
autoria todos participam, não existindo propriamente uma versão final.
Os
blogues permitem a divulgação de textos e a possibilidade de serem comentados
livremente. A biblioteca escolar pode recorrer a este ambiente virtual de
aprendizagem para publicar os textos relativos às atividades desenvolvidas,
permitindo comentários, provocando um feedback rápido e atualizado.
O
social bookmarking é excelente para grupos, pois permite-lhes criar uma rede
para partilhar recursos considerados relevantes durante a construção de um
projeto. É a ferramenta ideal pra processos de pesquisa, uma vez que
possibilita seguir as pegadas de materiais e comentários online.
O que
se pretende com a utilização dos recursos em ambientes virtuais de aprendizagem
é a autonomia para a criação, é a capacidade criativa, é saber desconstruir e
construir conhecimento, é argumentar e contra-argumentar, é saber ler e contra
ler; o mesmo pretende a biblioteca escolar. Portanto, a biblioteca escolar só
tem vantagens se se potencializar através do uso dos ambientes virtuais de
aprendizagem.
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O
mundo das tecnologias pula e avança, surpreendendo-nos todos os dias e,
curiosamente, muitos profissionais da educação continuam a não tirar proveito
das enormes vantagens das ferramentas digitais disponíveis, todas elas
facilitadoras da organização e execução do trabalho. De acordo com o perfil de
competências definido no Manifesto da Biblioteca Escolar e na Portaria nº 756,
os professores bibliotecários devem ser portadores de competências sólidas nos
domínios das literacias da informação e da comunicação, facilitadoras da
realização do trabalho colaborativo nas bibliotecas e nas práticas pedagógicas.
Penso
que todos nós temos desafios importantes pela frente no que diz respeito ao
trabalho colaborativo, porque nos cabe a tarefa de realizar com os alunos
atividades com recursos interativos e multimédia e com aproveitamento dos
espaços online síncronos e de ferramentas Web 2.0, facilitadoras dos processos
de comunicação, negociação e interação. Numa época de franca vulgarização das
TIC e do mundo digital, temos realmente muitas oportunidades para introduzir o
trabalho colaborativo nas nossas práticas pedagógicas.
Com a
evolução da Sociedade da Informação e consequente necessidade de uma rápida
aprendizagem tecnológica e global dos cidadãos, cabe à escola cumprir esse
objetivo de forma mais global possível, contribuindo assim, desde os mais
novos, para a formação integral do cidadão com um futuro desempenho social cada
vez mais dependente da tecnologia. É neste contexto que as TIC se integram nas
escolas, abrindo caminho para uma maior familiarização com esta área do
conhecimento. Apesar de as TIC serem assumidas no Currículo Nacional do Ensino
Básico em Portugal como “formação transdisciplinar”, devendo “conduzir, no
âmbito da escolaridade obrigatória, a uma certificação da aquisição de
competências básicas neste domínio” (Decreto-Lei 6/2001), não é isso que se
verifica, por isso, surgem as Metas de Aprendizagem TIC com a indicação do que
os alunos deverão adquirir nessa área ao longo do percurso escolar.
O
projeto “Metas de Aprendizagem” acabou por constituir uma excelente
oportunidade, para se equacionar, de uma forma sistemática, a definição do que
os alunos deverão adquirir na área das TIC ao longo e em cada uma das fases do
seu percurso escolar.
As
Metas de Aprendizagem TIC partem do pressuposto de que as TIC desempenham um
papel central na sociedade atual e que as formas de comunicação, de acesso à
informação e de produção de conhecimento que elas propiciam não só fazem parte
dos referentes culturais dos jovens, mas também que nelas reside um elevado
potencial para a promoção do desenvolvimento global dos indivíduos, da
sociedade e da missão nuclear da própria escola.
As
Metas de Aprendizagem TIC são uma mais-valia para o trabalho quer do professor,
quer do professor bibliotecário, uma vez que apontam as áreas de competência a
atingir pelos alunos em cada um dos ciclos. Como refere o documento "Metas
de Aprendizagem”, para o Pré-escolar, “a definição destas aprendizagens tem
como propósito último servir de orientação para educadores de infância
relativamente à selecção de estratégias de ensino e de avaliação dos resultados
da aprendizagem. Podendo ainda ser útil a pais e outros adultos com
responsabilidades na educação de crianças desta faixa etária”. O mesmo
documento acrescenta, ainda, que “importa sublinhar que as aprendizagens
visadas nesta faixa etária não são propriamente aquelas que dizem respeito ao
conhecimento sobre o funcionamento dos equipamentos, dos programas ou dos
recursos digitais. Mais do que isso, importa tirar partido do seu potencial
para proporcionar às crianças melhores e mais ricas experiências de
aprendizagem, valorizando as relações e interacções que as crianças estabelecem
entre diferentes sistemas sociais com características específicas (e.g. casa,
sala de aula, rua)”. Relativamente ao 1º
ciclo o documento refere que “mais do que um currículo autónomo, a ideia
nuclear é a de que estas metas constituam o referencial a considerar por cada
professor na sua área específica, numa óptica de desenvolvimento global do
aluno, permitindo-lhe compreender em que matérias, para que fins e como será
adequado e pertinente mobilizar as TIC”. Protagoniza, ainda, a ideia de que “a
operacionalização das metas de aprendizagem na área das TIC assenta numa lógica
de interacção entre os diferentes campos do conhecimento científico que compõem
o Currículo (áreas disciplinares/curriculares), em articulação estreita com as
aquisições de natureza transversal estruturantes do desenvolvimento global do
indivíduo, dando origem a uma estrutura de áreas de competência organizadas, em
função da sua especificidade”.
O
referido documento aponta também um conjunto de estratégias de
operacionalização, atividades e tarefas adequadas, para que os alunos, do
pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclos, sob orientação dos docentes, possam tirar
vantagens das tecnologias digitais.
A biblioteca
escolar/professor bibliotecário são imprescindíveis neste processo dado que a
BE proporciona ambientes formativos e de acolhimento promotores da leitura, de
uma cidadania ativa e da aprendizagem ao longo da vida. A biblioteca escolar
tem um importante papel a desempenhar na promoção e desenvolvimento de
literacias que permitirão aos alunos a integração efetiva, profícua e feliz na
Sociedade da Informação. As bibliotecas escolares, na
definição/programação/planificação de atividades com professores e alunos
deverão ter sempre em consideração as Metas de Aprendizagem TIC referentes à
literacia digital para que as áreas de competências – informação, comunicação,
produção e segurança – se constituam como pilares das restantes literacias,
nomeadamente as que são definidas no documento “Aprender com a Biblioteca
Escolar”: literacia da leitura, literacia dos média e literacia da informação.
O
aluno, ao terminar o Ensino Básico, deverá ser capaz de pesquisar, selecionar e
organizar informação para a transformar em conhecimento mobilizável e adotar
estratégias adequadas à resolução de problemas e à tomada de decisões. A
biblioteca escolar é o espaço e o recurso por excelência para a concertação de
esforços na promoção e desenvolvimento da literacia da informação, cumprindo os
objetivos que estão consignados nos documentos referenciais, nomeadamente o
Manifesto da Biblioteca Escolar (IFLA/UNESCO, 1999) e a Declaração Política da
IASL sobre Bibliotecas Escolares (IASL, 1993) e que o recente referencial
emanado pela RBE vem reforçar e orientar.
Portanto,
o documento “Aprender com a biblioteca escolar – referencial de aprendizagens
associadas ao trabalho das bibliotecas escolares na Educação Pré-escolar e no
Ensino Básico” é uma mais-valia, uma referência para o desenvolvimento de
atividades com os docentes, pois aponta para estratégias de operacionalização
para cada umas das literacias – leitura, média e informação – bem como sugere
atividades a desenvolver pelos professores de forma articulada com a biblioteca
escolar. Com efeito, reunidos no espaço da biblioteca escolar, os recursos
informacionais constituem-se como um excelente manancial para proporcionar o
desenvolvimento de conhecimentos, competências e atitudes necessários para se
viver na Sociedade da Informação, quer sejam utilizados por iniciativa dos
alunos, quer por iniciativa dos professores na preparação e implementação de
atividades letivas diversificadas, ao serviço de uma aprendizagem baseada em
recursos.
O
desenvolvimento de projetos articulados entre os professores e a biblioteca
escolar é a melhor forma de articular as Metas de Aprendizagem TIC com as
competências necessárias às diferentes áreas de literacia, pois a biblioteca é
o espaço privilegiado para a agregação de diferentes saberes.
Referências:
CANDEIAS,
M. I & SILVA, J. A. (2008). A nossa sala de aula já é maior que o planeta
Terra!. [Em linha]. In Educação, Formação & Tecnologias;
vol. 1(1), pp. 142- 152. Disponível em http://eft.educom.pt.
IFLA/UNESCO (1999). Manifesto da Biblioteca Escolar da
IFLA/UNESCO. [Em linha]. Disponível em http://archive.ifla.org/VII/s11/pubs/portug.pdf.
MOREIRA,
J. A. e MONTEIRO, A. (2012). Ensinar e aprender online com tecnologias
digitais: abordagens teóricas e metodológicas. Porto: Porto Editora.
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